Sobre um encontro com o real em "Como falar com garotas em festas"

{Momento: Literatura}



...Foi um golpe. Uma flecha implacável e precisa. Aquela era uma história do desencontro essencial existente na patilha dos sexos.

A potência da metáfora que se podia extrair daquele livro em quadrinhos era a mesma do encontro com uma verdade óbvia e insólita que vagava pelos lugares mais comuns sem nunca ter sido vista antes.

A história foi escrita por Neil Gaiman. Sua intenção pode ter sido muito mais literal do que metafórica, entretanto, pra mim, algo de um passado se descortinou. Uma emoção, um sentimento, um segredo... Como se alguém tivesse visto um momento, capturado uma essência, um átomo do que era ser menina, jovem, num mundo inteiro... Ser menino, jovem, num mundo inteiro...

Os desencontros intrínsecos, estruturais, linguísticos! A não relação, o avesso da junção...
A potência do sonho! A mulher em cada singularidade excêntrica.

Ao ler essa delicada história fantástica fui surpreendida pelo encontro com algo real, íntimo, pelo avesso... Algo que esteve sempre inscrito em mim sem nunca ter sido lido por mim.

Um estranho viu algo no fundo do meu olhar, escreveu seu devaneio e, eu, me reconheci nele, em algum lugar...

E é por isso que gosto tanto das narrativas fantásticas, porque elas tem o poder de nos devolver as verdades óbvias e invisíveis de nossa relação com o mundo.








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